quarta-feira, 9 de março de 2016

UTOPIA * Antonio Cabral Filho - RJ

UTOPIA

De manhã
sentado no banco do jardim
vi uma borboleta azul
se banhando no orvalho das flores
com tanta liberdade
que eu quase morri de inveja

*

Solidariedade * Antonio Cabral Filho - RJ

SOLIDARIEDADE
*
Um pássaro pousou
à beira do meu silêncio

Aquele rio caudaloso..

Ficamos abstraídos
com aquela substância incolor
frente a frente
sem entender um ao outro

*

terça-feira, 8 de março de 2016

Duelo De Sombras - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

Duelo De Sombras
- poema título -
Poesia
Antonio Cabral Filho
Curupira Edições 1999
*

Eu atiro poesia no vento
como quem quer parar a tempestade
sem me conter ante o raio e o trovão

me agarro com ele num duelo de sombras
para aplacar a fúria dos gênios
contidos nas garrafas mágicas

e nos redemoinhos que formamos
com o nosso corpo-a-corpo
diluímos as comportas

e tombamos libertos ao solo
correndo líquidos num rio sem margens
rumo ao mundo dos poetas andejos 

***

segunda-feira, 7 de março de 2016

Duelo De Sombras * Antonio Cabral Filho - Rj

Duelo De Sombras

Poesia - Antonio Cabral filho
Curupira Edições 1999

ABERTURA

"Por Deus e por todas as coisas em que não creio, 
minha sombra fala: ouço-a, mas não no creio"
(O Viandante e a Sua Sombra - Nietzsche)

SOMBRAS vão e vêm, são feitas, criadas, algumas ganham vida e tornam-se fantasmas. Lutas eternas.

SOMBRAS, companheiras.

SOMBRAS, silhuetas de objetos, de infindáveis realidades. O escuro fruto da luz.

SOMBRAS tão importantes quanto a luz nas suas mais diversas formas. Os detalhes que permitem, denunciam, realçam. Lirismo, sutileza, chaga e dor.

SOMBRAS que envolvem e despertam o poeta.

Duelo de SOMBRAS no qual sentimos o efêmero, o silêncio, fazendo-nos voar e pensar o mundo em que viemos do ponto de vista da luta, como diriam os muçulmanos ( a Grande Guerra Santa), de cada ser vivente consigo mesmo.

*
Com o sorriso de inveja da borboleta a se banhar no orvalho, somos despertados sutilmente  pelo soar de um sino de mosteiro para o estéril e movimentado mundo dos viventes e impulsionados a pensar o que podemos, juntos, contribuir para torná-lo poético e diferente.

José Marcelo Giffoni
Resultado de imagem para jose marcelo giffoni
Escritor, poeta e terapeuta, 
além de professor de história
 na rede pública de MG.

***

domingo, 6 de março de 2016

Evasão * Antonio Cabral Filho - RJ

Evasão
Edição AGBook
https://agbook.com.br/book/153490--ECCE_HOMO 
*
Todos os poemas publicados até aqui são do livro Ecce Homo, lançado em 1997, pelo selo Curupira Edições, projeto editorial que desenvolvi durante 10 anos no leste fluminense divulgando poesia, conto e crônica, quando criei e dirigi a Revista Literária Curupira - Folhetim de Agitação Cultural, encerrada em 2000.
***

Noite clara
plena de luar
todos estão contentes
a cerveja desce redonda
o papo corre solto
mas aqui bem aqui
ao meu redor
tramam contra inocentes

***

sábado, 5 de março de 2016

Miragens * Antonio Cabral Filho - RJ

MIRAGEM
*
Não vejo os meus dias 
em forma de montanhas
a serem transpostas
por viajantes cansados

Pior!

Vejo-os como miragens
no deserto dos meus sonhos.

***

sexta-feira, 4 de março de 2016

BULA * Antonio Cabral Filho - Rj

BULA
*

Palavras pedras
gestos abruptos
passos enérgicos
ideias obsoletas
e ações inúteis
são os requisitos básicos
para um tirano

*

quarta-feira, 2 de março de 2016

Florão Da América * Antonio Cabral Filho - RJ

Florão Da América
*
O menino era pivete
e se chamava Joãozinho
vivia como engraxate
ganhando a vida por aí
sem Deus 
e sem diabo pra atentar

até que um dia
foi estuprado por um maníaco
e encontrado morto na Lapa
dentro de um latão de lixo.

Não foi homenageado
com honrarias militares
nem imortalizado
num samba de carnaval.

Morreu e está morto
morto bem morto mesmo
morto até na memória

o menino que era pivete
e se chamava Joãozinho
que vivia como engraxate
ganhando a vida por aí
sem voz sem vez
e sem lugar na história.

***